Todas as crianças e adultos jovens precisam de apoio dos cuidadores, durante períodos de estresse e incerteza, como o que enfrentamos agora com a disseminação do coronavírus (Covid-19).
Lidar com o repentino fechamento de escolas, mudanças bruscas nas rotinas, perda de conexões com professores e amigos, e o medo de contrair o vírus – são um fardo para todos. Por isso, os cuidadores desempenham um papel importante em ajudar crianças e jovens adultos a entender as mudanças e processar os sentimentos relacionados.
Indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem precisar de mais suporte para processar as notícias e se adaptar às mudanças. Essa população pode enfrentar desafios adicionais relacionados à comunicação, dificuldade de compreensão da linguagem abstrata, insistência na mesmice e maior probabilidade de ansiedade e depressão – as quais podem ser potencializadas durante este
período estressante.
“Estamos no Abril Azul, mas a discussão sobre os cuidados com as pessoas com autismo precisam ser diárias. Ainda mais nesse período de pandemia causada pelo coronavírus. A inclusão social e o exercício da cidadania precisam ser efetivos e direcionados”, explicou a presidente da Comissão de Saúde e Previdência da Assembleia Legislativa do Amazonas, deputada Dra. Mayara Pinheiro Reis (PP).
Para facilitar essa compreensão, escolhemos sete estratégias com dicas para reforçar o trabalho e a atenção com os autistas. São elas :
1. Suporte para compreensão
Indivíduos com autismo podem apresentar diferentes níveis de entendimento sobre o vírus Covid-19, como ele se espalha e como reduzir o risco de exposição.
Dica 1: Descreva o vírus e a situação atual (por exemplo, fechamentos, distanciamento social) em linguagem e termos concretos e evitar palavreado florido ou abstrato. A compreensão de frases abstratas e metáforas como “ela pegou o vírus” podem ser difíceis para indivíduos com autismo e com isso criar confusão (Lipsky, 2013).
Dica 2: O uso de linguagem direta e clara é recomendado. Frases como “O coronavírus é um tipo de germe. Esses germes são muito pequenos e, quando eles ficam dentro do seu corpo, eles podem fazer você ficar doente” podem ser mais fáceis de compreender para indivíduos com autismo.
Dica 3: Ler as histórias para/com o indivíduo com autismo regularmente em vários dias é útil. Revise e ajuste a história se necessário conforme as circunstâncias. Forneça suporte visual para oferecer orientações sobre ações e comportamentos específicos do coronavírus.
2. Oportunidades de expressão
Crianças e adultos jovens vão apresentar dificuldade de expressar articuladamente como eles se sentem em relação a essas várias mudanças inesperadas. Medo, frustração e preocupação podem ser expressos através de comportamentos desafiadores, como birras, recusa em fazer parte das atividades familiares ou isolamento. Para indivíduos com autismo, essas dificuldades de comunicação podem estar relacionadas aos atrasos de comunicação expressiva, habilidades verbais e não verbais limitadas, dificuldade de tomada de perspectiva e déficits na comunicação social.
Dica : Promover várias oportunidades para os membros da família expressarem os seus sentimentos como eles são capazes – através de discussões familiares ou individuais, atividades de escrita, filme ou jogos. Sentimentos e necessidades podem ser comunicados através de formas alternativas de expressão, como o uso da comunicação alternativa e aumentativa (ex.:ipad, figuras), ouvir ou tocar músicas, dançar, fazer yoga e várias formas de arte visual.
3. Priorizar habilidades de enfrentamento e acalmar-se
Apoiar indivíduos com autismo a aprender habilidades de lidar com a realidade, auto gerenciamento, habilidades de auto cuidado é a prioridade durante um tempo de incertezas
Dica 1: Indivíduos com autismo possuem algumas estratégias de enfrentamento e de acalmar-se em seus repertórios de habilidades para acessar como suporte durante seus momentos de maior ansiedade. Essas estratégias podem incluir balançar em uma cadeira , escutar uma musica em um fone de ouvido,respirar fundo, ver seu clipe favorito ou fazer uma atividade que goste.
Dica 2: Se as habilidades de enfrentamento da realidade não é parte da rotina ainda, os cuidadores devem priorizar o ensino dessas habilidades.Estrategicamente, escolha uma parte do dia que o indivíduo com autismo esteja calmo para iniciar o ensino. Crie uma rotina concreta e visual de suporte para usar essas estratégias.
Dica 3: Atividades de enfrentamento e de acalmar-se podem ser feitos regularmente durante o dia nas semanas iniciais de mudanças, e então, se apropriado, os pais/responsáveis e cuidadores podem introduzir e ensinar um plano de auto gerenciamento que ajude os indivíduos com autismo a rastrear suas respostas de ansiedade e preocupação e a identificar as estratégias que são necessárias.
Dica 4: Exercícios físicos também são uma forma de reduzir os sintomas ansiosos, tanto dos indivíduos com autismo como dos indivíduos em geral. Considere adicionar rotinas de exercícios básicos para toda a família.
4. Manter rotinas
Embora seja importante criar tempo e espaço para todos os membros da família processarem a incerteza, indivíduos com autismo lidam melhor quando suas rotinas são interrompidas o mínimo possível. As rotinas podem gerar aumento de conforto para indivíduos com autismo (Faherty, 2008) e podem proporcionar uma forma melhor de expressar seus sentimentos relacionados à mudança.
Dica 1: Rotinas de dormir/acordar
Dica 2: Tarefas domésticas/ habilidades do dia-a-dia;
Dica 3: Expandir o uso de um cronograma visual, e usando um de forma mais regular durante o dia, pode facilitar a participação nas atividades de casa e reduzir a ansiedade.
5. Construir novas rotinas
É possível também ser necessário criar novas rotinas durante esse período.
Dica 1: Em um momento de crise, quando a maioria das pessoas sente que está fora de controle, oferecer opções pode aumentar o senso de autonomia e motivação.
Dica 2: Crie um espaço de trabalho com uma lista de tarefas. Pela primeira vez, espera-se que muitas crianças e adultos jovens concluam os trabalhos escolares em casa. Indivíduos com autismo podem ter dificuldade em generalizar as estratégias e habilidades usadas no ambiente escolar para o ambiente doméstico
6. Promover conexões
Indivíduos com autismo são mais suscetíveis ao isolamento social e à solidão, e isso pode ser agravado pelas condições de quarentena. Apoio social positivo é importante para todos durante este período, e indivíduos com autismo podem precisar de facilitação mais explícita para garantir que as conexões continuem.
Dica 1: Chamada com o Face Time.
Dica 2: Vídeo- chamadas com membros da famílias, amigos, professores, etc.
Dica 3: Aplicativos de bate-papo por vídeo.
7. Atentar sobre as mudanças de comportamento
Indivíduos com autismo podem não ser capazes de expressar verbalmente medo, frustração e ansiedade com as muitas mudanças e/ou sua saúde; expressões podem ser demonstradas por outros meios. Os cuidadores devem estar cientes dos comportamentos de indivíduos com autismo durante esses períodos de incerteza e estar alerta para sinais de ansiedade e depressão. Isso pode incluir uma mudança nos padrões de sono ou alimentação, aumento de comportamentos repetitivos, preocupação excessiva ou ruminação, aumento da agitação ou irritabilidade ou diminuição do autocuidado (Hedges, White & Smith, 2014, 2015)
Dica : Se as mudanças de comportamento forem observadas, apoio adicional da saúde mental à família e/ou de prestadores de serviços médicos, como um médico, terapeuta, psicólogo ou psiquiatra podem ser necessários.
Gisele Maria de Melo Amaral.
Psicóloga clínica da Comissão de Saúde e Previdência da Aleam
Fonte: Frank Porter Graham Child Development Institute