Na manhã desta segunda-feira (8), a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) ouviu a comunidade científica sobre a reabertura gradual das atividades do comércio no Estado, durante uma Audiência Pública virtual. Todos os participantes foram unânimes em reprovar o relaxamento precoce do isolamento social e sugeriram sua revisão, além de políticas diferenciadas para o transporte coletivo, investimento em testagem, maior repasse para o interior e campanhas de conscientização para a população.
Para o presidente da Assembleia, deputado Josué Neto (PRTB), a oportunidade de ouvir a comunidade científica é importante para se definir a postura do parlamento estadual sobre o retorno das atividades presenciais. “A nossa Assembleia foi uma das primeiras instituições a adotar o sistema remoto de trabalho, mas com o retorno de parte do comércio queremos ouvir os cientistas sobre os riscos de se retomar as atividades presenciais”, afirmou o presidente do Poder Legislativo. O parlamentar enviará a ata da Audiência para órgãos e prefeituras do interior e sinalizou a realização de nova Audiência Pública para tratar sobre o tema.
O deputado Serafim Corrêa (PSB) destacou a importância de debate da flexibilização diante da influência que a Assembleia representa para a população. “A Assembleia é uma referência para a população e se a Assembleia voltar a funcionar, as pessoas vão entender que é seguro retomar atividades”, exemplificou.
Especialistas
Apresentando dados de um estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a médica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Luiza Garnelo, apontou que pelo menos 12% da população amazonense teve algum contato com o vírus, mas que o número não é suficiente para desenvolver uma imunidade natural e que 25% dos amazonenses não cumpriram o isolamento social por diversas razões.
Segundo Garnelo, as estatísticas continuam apontando para o crescimento da infecção. “A queda dos óbitos é muito relevante e a meu ver expressa muito mais a melhoria no sistema de saúde, aumento de leitos, entre outros, com a melhoria do atendimento, mas isso não implica dizer que a infecção não diminuiu”, afirmou.
A deputada Dra. Mayara (PP) lamentou a questão cultural das pessoas ter influenciado no baixo índice de isolamento social que não ultrapassou os 40%, sendo mais baixo ainda no interior, onde não tem efetivo de polícia suficiente para fiscalizar a circulação nas ruas.
O professor de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Fernando de Souza Santos, classificou a pandemia como um fenômeno biológico, cultural, econômico, tornando um fenômeno multidimensional e criticou o Governo por ter reaberto parte do comércio sem antes ouvir a população, amparado apenas na queda do número de mortos.
Alerta
Augusto Ferraz (DEM) ressaltou a falsa segurança que as pessoas estão tendo nas ruas, como se o perigo de contágio já tivesse passado. O pesquisador adjunto da Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) lamentou essa situação e destacou a possibilidade real de uma segunda onda, justamente porque a população não vê o retorno como uma medida gradual, mas sim como uma liberação geral das atividades.
Também participaram da Audiência Pública o professor Lucas Ferrante, representante do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o matemático Alexander Steinmetz, diretor do Departamento de Matemática da Ufam, e o médico hematologista Nelson Fraiji, representante da Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam).
Diretoria de Comunicação da Aleam
Texto: Fernanda Barroso
Foto: Danilo Mello