A chance de um novo começo fora dos muros que cercam o Centro de Detenção Provisória II (CDPM II), é o que motivou o detento Marcelo Texeira a disputar uma das vagas no curso de biblioteconomia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Assim como ele, outros 60 apenados da mesma unidade prisional, localizada no km 8 da BR-174; outros 329 de outras unidades da capital e 81 do interior, num total de 471 detentos no estado, realizaram nesta terça-feira (23/02), a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com o mesmo intuito: mudar de vida por meio do ensino superior.
“O meu sonho é me tornar um bibliotecário. Em uma das oportunidades que já me deram, eu trabalhei muito tempo na área de biblioteconomia e assim, ter a graduação e a formação, pra mim, é um sonho que eu almejo”, conta Marcelo, enquanto se prepara para a aplicação do teste.
Este ano, o CDPM II destinou quatro salas de aula da Escola Estadual Giovanni Figliuolo, que ocupa um dos anexos da unidade prisional, para a aplicação do exame. A prova seguiu os mesmos protocolos realizados em todo o Amazonas, com início às 12h30 e duração máxima de 5h30. Neste primeiro dia foram realizadas a redação e as provas objetivas de linguagens e ciências humanas.
Para o detento, o Enem representa: “a possibilidade de ter a certeza que existe um mundo além dessas grades, a certeza de que nós somos normais, nós somos pessoas. Estamos aqui sim, pagando por uma falha, um erro, mas que nós temos o direito de poder almejar sonhos. Fazer com que amanhã, na nossa realidade, isso se torne verdade”, desabafa.
Além da preparação das salas para as provas, que seguiu todas as normas sanitárias para evitar a proliferação da Covid-19, a unidade também dispôs uma equipe formada por psicólogos, assistentes sociais e professores, que atuam no CDPM II, para auxiliarem os detentos nos estudos para a prova. Quem acompanhou de perto essa preparação foi a assistente social Antônia Ventura, que destacou o trabalho educacional realizado.
“A unidade conta com a participação de todo o corpo técnico e professores, que são da Seduc, e eles fazem um preparatório exclusivo do Enem, voltado para todas as áreas que vão ser aplicadas no Enem, principalmente também voltada à redação. Então eles já são treinados e também durante a aula que tem na unidade, realizada pela Seduc, em parceria com a Seap”, destaca a assistente social.
De acordo com o diretor do CDPM II, Jean Carlos, a aplicação do Enem para os apenados é um complemento fundamental do trabalho de ressocialização já desenvolvido pela unidade prisional, para melhorar a perspectiva de vida dos detentos, por meio dos estudos e de programas sociais.
“Os nossos internos, além de trabalharem, também têm outras atividades relacionadas à ressocialização. O Enem vem completar essa lacuna que fica faltando aqui no sistema prisional. É muito importante, porque ele faz também com que os internos voltem a estudar, tenham capacidade de realizar algum sonho”, diz o diretor.
Foto: Lucas Silva/Secom